A cidade mais fofa que eu ja vi até agora... de se apaixonar, organizada, limpa, cheia de historia e bonita por natureza... Assim era Christchurch... E espero sinceramente que volte a ser...
Desde que chegamos aqui em novembro do ano passado nos apaixonamos por essa cidade plana e convidativa, com um centro bem definido com traçado ortogonal cercado por quatro grandes avenidas e seus bairros perifericos, todos muito parecidos com casas de um pavimento construidas em grandes terrenos, com quintais e jardins bem cuidados e incrivelmente floridos na primavera, o que dava um charme a mais na cidade. Mais tarde descobrimos que Chch é a cidade das flores. A grande maior parte da cidade é plana, cercada por morros na regiao sudoeste. Com praias lindas de agua transparente e congelante e sempre uma ondinha boa em algum lugar para surfar. Nos apaixonamos por Sumner, um balneário pequeno com um incrível pedra furada por onde pode se passar a pé. Meu ex chefe da pizzaria o qual era presidente de um clube de long bord dizia que Christchurch é perfeita, é uma das poucas cidades que voce pode surfar pela manhã, ir fazer snowboard a tarde (tem otimos lugares para ski a 1 hora daqui no inverno) e voltar pra casa a tempo de tomar uma cerveja com os amigos. Achavamos que tinhamos encontrado o paraíso. A cidade sendo toda plana nos convidou a comprar um skate, um dos meios de transporte mais comuns por aqui... Saiamos por ai felizes caminhando quilometros a pé ou de skate porque a cidade é tao bonita que nem ligavamos em caminhar 5, 6 km ate o centro, pois o tempo passava muito rapido.
A cidade é conhecida por ser a mais inglesa das cidades da Nova Zelandia, com construções datando da metade de 1800. Muitas contruções em pedra e tijolo (coisas não comuns por aqui) e um bondinho que te leva a um passeio histórico pelo centro da cidade – chamado de CBD. Christchurch éra um graça de lugar, tem um parque gigantesco no meio da cidade, ao lado do centro, com um jardim botanico e um rio de aguas critalinas que corta a cidade toda com direito a passeio de caiaque ou para os mais folgados um passeio de canoa com o remador vestindo roupas de modelito datando do inicio do século XX.
A catedral da cidade era um monumento a parte, nao muito grande mas graciosa, ficava na Cathedral Square, a praça coração da cidade, que abriga um jogo de xadrez gigantesco que é disputadissimo para ser jogado e seus personagens tipicos que como qualquer outra cidade, principalmente sendo turística tem, um bruxo profeta, um tocador de flauta, apresentações de artistas amadores e banquinhas com lembranças, artesanato, e comidas tipicas como o fish&chips, tudo cercado por prédios históricos.. Uma graça. Toda vez que passavamos por ali tinha algo acontecendo e sempra paravamos alguns minutos para ver ou simplismente para adimirar esse lugar tão fofo. Quando decidimos nos mudar pra Auckland ficamos triste porque relamente gostavamos daqui, mas buscavamos oportunidades nas nossas áreas então fomos... Quando tive a entrevista e consegui a vaga aqui ficamos duplamente felizes, uma pelo trabalho e outra porque iriamos voltar a morar aqui, onde aos poucos iamos conhecendo os locais sempre muito receptivos e que após a tragedia do terremoto se mostraram ainda mais amigaveis.
Falando em terremoto ao contrario do que se pode pensar não é uma coisa comum aqui não, eles tiveram um grande ano passado, em 4 de setembro as 4 e meia da manhã, 7.1 na escala Richter que pegou todos de surpresa, destruiu alguns edifícios históricos e deixou vários outros interditados. Como o ritimo aqui na NZ e principalmente na ilha sul é mais devagar muitos predios ainda estavam parcialmente em pé, devidamente cercados e isolados mas esperando para uma futura demolição e alguns esperando por um reconstrução. Desde o terremoto de setembro a cidade teve alguns aftershockes (que são pequenos tremores decorrentes de um maior), inclusive relatei 2 dos grandes aqui, tiveram outro no dia 26 de dezembro mas era uma coisa que a população ja estava se acostumando, alguns mãe dinah falaram que teria outro terremoto mas era tudo especulação, ninguem provava nada. Até que chegou 21 de fevereiro, ao meio dia e cinquenta, quanto outro terremoto desta vez de 6.3 arrasou a cidade. Embora mais fraco que o primeiro este foi mais perto do centro da cidade – apenas 10km – e bem mais perto da superfície, apenas 5km de profundidade, ao contrario do primeiro que foi a 20km. Isso fez com que o chacoalhar fosse muito mais forte, mais intenso, alem de que os edificios ja estavam fragilizados pelo primeiro terremoto. Em fevereiro infelizmente tivemos vítimas fatais, ao contrario do de setembro que nao teve nenhuma, principalmente porque como foi de madrugada a maioria absoluta da população estava dormindo em casa e desta vez estava trabalhando, ou passeando pelo centro da cidade. Christchurch nunca mais será a mesma, desta vez a prefeitura tomou medidas mais drásticas e ja começou a demolição dos edificios antigos que estavam ameaçados, antes que os cricris do patrimonio histórico pudessem reclamar. Sim porque sempre tem gente para reclamar né. Apos o de setembro o principal problema das casas foi que as chaminés cairam e como muitos dos moradores não usam mais a lareira pois tem aquecedor ninguem queria mais se preocupar com a chaminé, mas aí apareceu o patrimonio histórico, exigindo que os chaminés fossem recolocados obrigatoriamente pois eram parte da caracteristica das residencias da cidade, aí ficou a briga, e antes que tivesse algum vencedor veio a natureza para acabar com a discussão provisóriamente. Então desta vez a prefeitura sabiamente já esta botando a baixo os edifícios antigos, como arquiteta muitos podem ficar chocados com meu apoio a prefeitura, mas convenhamos que entre manter os edificios e preservar a vida das pessoas eu fico com a segunda opção.
Enquanto esperamos nossa vez para sair da cidade ficamos pensando sempre no quanto gostavamos da cidade, no quanto imaginávamos nosso futuro aqui, no tanto de vezes que comentamos de como a cidade era legal e como nos sentiamos em casa aqui. Mas acharemos outro lugar a nossa cara, algum lugar que não mexa como um pudim, porque o pior do terremoto é que não se pode prever, não é como um furacão que voce se prepara pra ele, um vulcão que os cientistas ficam acompanhando e preveem quando vai entrar em erupção, o terremoto simplismente vem e o maximo que se pode fazer é medir ele apos o acontecido...
Vamos ficar torcendo para que a cidade se recupere da melhor maneira possível, que a população tenha uma paz desses terremotos e que possa voltar a sua vida. Falando em população essa se mostrou ainda mais amigavel e acolhedora, não passa um dia sem que venha alguem bater na nossa porta perguntar se precisamos de algo, se temos agua, se precisamos de uma carona até algum lugar, se queremos conversar, gente que a gente nunca viu, simplismente bate aqui pra tentar confortar aqueles que assim como eles estão assustados, cansados e sem saber o que fazer. No sabado que nos mudamos fomos a uma Garage Sale a 3 casas da nossa casa, conversamos um pouco com a dona da casa que falou que tinha amigos brasileiros, ela é a mulher espalhafatosa que contei no post anterior, usa muita maquiagem, roupa sempre de perua mas é um amor, nos convidou para chás, barbecues, se ofereceu para nos dar uma carona para buscar agua, sempre que nos ve vem conversar. Nossos vizinhos de unit tambem estão sempre batendo aqui para saber como estamos, para nos explicar do lixo, nos contar o que a prefeitura esta instruindo a população para fazer, o vizinho ja convidou o Fabio para tomar umas cervejas, nos contou dos principais atrativos da cidade, nos ofereceu o carro dele para quando precisarmos fazer compras e nos ofereceu para cortar nossa grama. Hoje bateu na porta um homem com uma nenem pendurada no colo fechada dentro do casaco ja que estava chuvendo, ao perguntar de onde eramos nos contou que ja tinha morado no Brazil e falava um portugues muito bom, nos convidou para um churrasco na casa dele e para ir colher verduras que ele plantava no quintal. Ele veio nos avisar que tinha um fazendeiro parado na frente de casa com agua potável (a agua que a prefeitura distribui apesar de potável é pedido para que fervessemos), fomos lá fora encher nossos potes e o fazendeiro estava com a caminhonete parada lá, com o filho e a mulher ajudando, contaram que fizeram 300km pra trazer a agua na cidade. Depois apareceu uma garota so para checar se tinhamos agua na torneira e comida nos armários. Falando nos potes algumas partes da cidade estava desde o terremoto sem agua, na verdade 80% da cidade, e nós estavamos nessa porcentagem. Fomos contados pela vizinha espalhafatosa que tinha uma torneira a umas 5 quadras daqui que tinha agua ela se ofereceu para nos levar lá mas resolvemos ir a pé mesmo, no primeiro dia levamos os potes que tinhamos em casa, no segundo dia ao chegarmos lá vimos que uma fabrica de plástico na frente tinha aberto uma torneira improvisada na tubulação de agua deles e colocado vários containeres iguais aos de leite a disposição da população para levar a agua embora, assim cada um fazendo o que pode esta se ajudando, todo mundo se cumprimenta na rua, todo mundo quer conversar, contar sua história pessoal, saber da sua história, se oferecer para alguma coisa, assim vamos conhecendo muita gente, treinando o ingles e fazendo amizades enquanto esperamos nossa vez de pegar o voo de saida daqui... Christchurch deixará saudades, não do terremoto, mas da paz, da tranquilidade e da população daqui.
Pedra furada em Sumner
Foto da semana passada - Centro da cidade
Catedral
Eu na Cathedral Square na frente do bondinho
As ruas do centro são uma graça
Mais um pouco de Cathedral Square
As figuras do centro da cidade
Rio que corta a cidade serve de paisagem para o almoço de quem trabalha na City
Um dos muitos prédios históricos que em breve não existirão mais... (detalhe para meu dedão na foto ;) )
Fábio brincando com os patinhos
Os suburbios residenciais - e o gato de skate
Cidade na primavera, flores para todos os gostos - e nós de skate por ai...
Passeio de canoa
Botanic Garden
Jardim das Rosas e eu a flor mais bela de todas hahahahahahahhahahhahahahahahahaha
Mais flores
Nosso balneáreo favorito - Sumner
Não é uma graça de lugar?!
Escultura na Cathedral Square com danças e cantos Maori
Na rotunda funciona um restaurante
Essas esculturas são pedaços do World Trade Center de NY, um agradecimento aos bombeiros da NZ, mal sabiam eles que iriam precisar dos bombeiros dos EUA num futuro...
Essa igreja estava assim desde o terremoto de setembro, agora caiu de vez...
Essa foto é da semana passada, a prefeitura estava derrubando os prédios ameaçados...
Essa semana ia começar o Festival das Flores aqui... a cidade estava ainda mais enfeitada, na foto esculturas na Cathedral Square
Mais uma de Sumner, com os tremores muitas pedras rolaram dos morros atingindo as casas que ficavam na base ou desmoronando as de cima dos morros...
Bairros residenciais...
Atualizaçãozinha de ultima hora.. estavamos saindo de casa para vir na net quando o David, o Kiwi que ja morou no Brasil estava chegando lá em casa, com tomates e pepinos colhidos do jardim dele, nos levou até la pra mostrar a coleção de frutas e verduras que tem plantados e falou que faz questão que nós fique a vontade para colher tudo que tem lá, tambem mostrou onde ficam as bicicletas e nos convidou para um almoço com a familia dele em uma fazenda meio afastada daqui... Muito gente boa a gente vai encontrando pelo caminho... ;)
Ruas cobertas do pó da Liquefação que brotou das ruas e jardins
Rachadura no asfalto...
Nossa casa...
Igreja que ja estava ameaçada agora ainda mais em ruínas, ontem a prefeitura estava demolindo estes dois prédios...
Prefeitura disponibilizando agua para a população...
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